Rastros e fragmentos: a ficcionalização da memória e do documental em Para Sama

 Em 2016 Waad Al-Kateab, jornalista e ativista síria, iniciou as filmagens do longa que finalizaria três anos depois, Para Sama. Al-Kateab, pseudônimo adotado pela realizadora, agrupou um material denso, um emaranhado de vozes, externando um cotidiano duro e sedimentando seu projeto: fazer emergir questões locais e torná-las próximas de um maior grupo possível de indivíduos.…

ALMA NO OLHO E A PARTILHA DO SENSÍVEL

Nos primeiros capítulos do livro “A partilha do sensível: estética e política”, Jacques Rancière conceitualiza o termo que dá nome à obra. A partilha do sensível é, para Ranciére, o sistema de evidências sensíveis que revela a existência de um lugar comum e os recortes que definem partes específicas. Em outras palavras, a partilha é…

A glória do qualquer um em “As últimas testemunhas”

No capítulo 3 da obra A partilha do sensível, de Jacques Rancière, o autor se contrapõe à conhecida tese benjaminiana de que as novas formas de reprodutibilidade técnica da arte tenham aberto caminho para a representação do indivíduo anônimo. Para Rancière, seria importante ver as coisas justamente ao contrário: ele defende que teria sido a…

Sobre a construção de um templo: A ficção da memória em ‘A guerra não tem rosto de mulher’

Em 2015, a escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch foi laureada com o Nobel de Literatura e se tornou a primeira mulher com uma obra de não-ficção a vencer o prêmio. Apesar de ter ganhado fama internacional somente a partir disso, com as suas obras sendo traduzidas pela primeira vez em diversos países, inclusive no Brasil, Aleksiévitch…