O Nós, novo projeto de extensão do PET, foi criado com o objetivo de transmitir as ideias de nossos petianos e divulgar seus temas e desenvolvimento de pesquisas. Procuramos, assim, incentivar a aproximação de nosso núcleo com o meio acadêmico, alunos e a faculdade. Venha então conhecer um pouquinho mais de Nós!
Ana Lívia Faria de Medeiros
Petiana desde junho de 2016
“Eu queria estudar racismo.
Descobri que esse é um tema que as pessoas da comunicação dificilmente trabalham. E eu queria trabalhar esse tema na perspectiva do meu lugar de fala, como pessoa branca. Existem poucos trabalhos na comunicação que abordem o assunto por esse lado, e eu queria trazer algo de mais prático para minha faculdade.
Minha ideia, então, foi: fazer uma análise das ementas das disciplinas da Facom, para entender de que formas elas propõem discutir as desigualdades raciais. Em uma conversa com o Professor Paulo Roberto, meu orientador, ele propôs para que eu expandisse minha pesquisa, de modo que ela englobasse outras universidades. Optei por analisar todas as de comunicação de Minas Gerais.
Segundo a diretriz curricular de 2013, todos os cursos de comunicação devem proporcionar discussões sobre as relações étnicas. A ementa deve mostrar que é um tema possível de ser tratado. Acredito que, quando um assunto deixa de ser discutido, quando há total silêncio em relação a ele, há um significado para tal atitude. O silenciamento sobre o racismo significa que alguém não se sente confortável em abordar o tema.
Portanto, pouco se ouve sobre discussões étnicas em sala de aula, o que acredito ser fundamental para a formação de um jornalista, um estudante da comunicação. Um profissional dessa área falará, ao longo de sua carreira, muito sobre o outro, o ‘próximo’. Então fazer essa análise crítica é importante por esse motivo: é essencial para que as pessoas criem consciência e tenham maior cuidado com ‘deslizes’ comunicacionais que podem cometer.
Tendo isso em mente, acredito que minha pesquisa é importante por dois principais motivos:
- Ela busca trazer um efeito prático: vai analisar o porquê de o discurso sobre as desigualdades raciais, que sim, existem, não serem tratados em sala de aula, qual o motivo do silêncio.
- Em segundo ponto, ela também busca reforçar a importância dos brancos reconhecerem seu lugar na questão das desigualdades sociais. Quando se fala de racismo, não se fala apenas de negros, mas também de brancos. E principalmente, em relação a como as pessoas brancas tratam as pessoas negras. É preciso entender como essa estrutura se opera. Por isso, é importante também inserir os brancos nesse debate.
Estudar questões que afligem o ser humano sempre despertaram meu interesse. O impulso para minha pesquisa, contudo, veio em grande parte do fato de eu ter entrado para a militância. A partir daí, recebi diversos ‘tapas’ na cara de pessoas mais experientes no assunto. Essas verdades possibilitaram que eu enxergasse a fundo todo o racismo enraizado na sociedade. Me ajudou a questionar meu lugar como pessoa branca, e a querer mudar a realidade de desigualdade racial.
Para basear minha pesquisa, a maior parte de minha bibliografia é composta por mulheres, e entre elas, procuro que a maioria seja escrita por negras. Ao meu ver, para produzir ciência, não é necessário que a pessoa tenha passado por certas experiencias. No produzir de seu conteúdo, é possível a uma pessoa ‘mergulhar’ em um assunto não de uma forma imparcial, mas mais isenta. Ela possibilita que você se confronte.
Entretanto, acredito que quando o assunto é a questão racial, alguns autores cometem ‘deslizes’ ao abordarem o tema. Portanto, procuro por pessoas negras que, talvez por suas vivencias, consigam traduzir o fato e o real problema em seus artigos e pesquisas. Além disso, percebi que temos poucos autores negros. E reforçar esses trabalhos de grande qualidade, que muitas vezes são invisibilizados, é muito importante. Eu pretendo continuar pesquisando muita coisa nessa área. De todos os temas polêmicos da sociedade que são discutidos, o que menos se reproduz é sobre o racismo. Isso é uma prova de como a estrutura é frágil e perversa.
Há muito trabalhos interessantes sobre feminismo. Questões de classe. Mas sobre racismo, é muito raro encontrar. Então acredito que seja por aí que tenho para contribuir. Em forma de pesquisas de qualidade sobre as desigualdades raciais”.