Por: Christinny Garibaldi
O Facebook é o maior canal de difusão de notícias para os Yankees. É o que indica pesquisa sobre jornalismo e mídia publicada em maio de 2016 pelo Centro de Pesquisas Pew. Nos Estados Unidos, 62% da população usa o Facebook como meio de acesso às notícias e 66% dos usuários enxergam a rede como um provedor de informações. Diante destes números, o Facebook não poderia escapar dos dilemas e discussões do campo da Comunicação. E, de fato, não escapa. A mais recente polêmica da rede social foi o furo jornalístico do britânico The Guardian sobre o manual de critérios para os moderadores do Facebook de quais publicações devem ser apagadas da rede. Foi possível saber, a partir daí, que dentre os conteúdos que devem ser excluídos estão o sexo explícito, ameaças a chefes de Estado, terrorismo e imagens de violência.
Assim, a seleção das informações que ficam e que saem do Facebook é baseada em um guia de valores. O que está em discussão não é a necessidade ou não desse guia. Limites são necessários para que a liberdade de expressão não se transforme em desregramentos e discursos de ódio. Vale é questionar a posição de Mark Zukerberg, que insiste em afirmar que o Facebook é apenas uma plataforma de socialização entre as pessoas, e que não interfere na propagação de conteúdos. Na realidade, o Facebook edita, seleciona e hierarquiza, ou seja, o Facebook funciona como um gatekeeper de informação.
A Mestre em mídias digitais Júlia Pessôa, jornalista do periódico Tribuna de Minas, acredita que o Facebook, como qualquer outro canal de comunicação, tem poder de influenciar o posicionamento do público. “Muitos usuários tendem a ler qualquer conteúdo compartilhado como verdade, e isto tende a influenciar a visão de mundo que eles constroem a partir destas pretensas verdades, que são apenas recortes da realidade”. Aparece aí mais uma semelhança com os veículos de comunicação: o conceito de enquadramento a partir de recortes da realidade passa a ser percebido também nas redes sociais.
Não foi à toa que Donald Trump destinou grandes investimentos para as redes sociais em sua campanha eleitoral. O presidente estadunidense, que teve a candidatura noticiada em seções de entretenimento no início da campanha, poderia ter vencido a eleição sem o Facebook?
Resta-nos entender como é possível uma rede social interferir nos rumos de importantes decisões por meio do controle virtual. O professor doutor Victor Stroele, do Departamento de Ciências da Computação da UFJF, explica que a programação do Facebook é feita com os Algoritmos de Recomendação, que selecionam os conteúdos que tenham mais relações com aquele perfil. Dessa forma, o provedor de notícias da rede social (feed) busca manter a pessoa conectada o maior tempo possível. Para filtrar o que pode ou não ser mais interessante, além dos sites mais visitados, o Facebook também tem acesso a dados como a velocidade de conexão da Internet e tamanho da tela do celular do usuário.
O poder de influência do Facebook gera, assim, a necessidade de uma regulamentação que proteja o público de manipulações indevidas. É o que aponta relatório do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo, da Universidade de Oxford, publicado em julho de 2012. Nele, o primeiro passo é expor regras e valores. Mas, como vimos acima, os critérios de seleção dessa rede social só se tornaram públicos com um furo jornalístico. Por que o esforço em escondê-los, se a transparência sempre se mostrou a melhor alternativa ética para os veículos de comunicação?