Jornal Mural

Já conferiram o perfil que o bolsista Gabriel Ferreira fez sobre o Paulo? O desenho (maravilhoso) é da, também bolsista do PET,  Mariana Dias!

paulo PAULO NÃO USA POCHETE 

Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou? A camisa, lisa, carrega um claro azul ou um tímido cinza. Pode ser listrada, claro, mas de mangas curtas. Não há de se enganar. Sapato e calça jeans para acompanhar o despojo do cavaco. Não se preocupe se o seu terno já virou estopa, afinal, ainda anda fagueiro e todos sabem que pra sempre andará; Paulo Roberto é metáfora de leveza e serenidade.

Consigo, carrega os versos de Noel Rosa e Cartola, mas não deixa pra lá os sambas-enredo de outrora. É pelos mais antigos sua predileção. Não carrega no peito a paixão por alguma escola de samba. Ah, azar das escolas de samba, como já bem disse o outro. E por falar em clássicos romantismos, correu para General Severiano de Mané, Heleno e Nilton Santos quando sua família o esperava em São Januário. Em outros tempos, não era uma criança levada; foi só uma tia querida que o desviou o caminho e, por que não, as crônicas do alvinegro João Saldanha.

Criança que carrega junto a si, após algumas décadas, vívida a lembrança dos tempos de escola em Valença com a mãe; criança que ainda mora em Paulo, escondida maliciosamente atrás de cativantes gargalhadas e bochechas ressaltadas. Leva a política como assídua companheira desde a época dos grêmios estudantis. A resistência nunca morou em casa, pois a mãe, professora e militante sindical, não sentia incômodo algum nos passos dados pelo filho mais novo. Tampouco Márcia. Não se herda somente cinismo de amores. Da esposa, alguns quilômetros o separa desde a época de universidade, oportunidade para o tempo ensiná-los a tirar da saudade proveito. Por 28 anos, o aniversário e o casamento de Paulo se misturam em uma só comemoração.

Paulo é sujeito de sebo, vitrola e café; é cinema italiano e caderninho; é o neorrealismo no pós-modernismo. Que não se compreenda um camarada antiquado ou até conservador, meus caros, por favor! Paulo é alma que transborda, simplesmente. Que contos de Jose Luis Borges e obras de Clarice Lispector o traduzam. Ora, mas Paulo Roberto não é perfeito! Afinal, ele não usa pochete. Sua maior fragilidade moral, em tímida – e hilária – confissão. Mas, melhor sujeito aquele que, envergonhado, desvela seu grande gosto por “proteínas animais”.

O termo o entrega. Assim como uma criança faz de qualquer coisa seu brinquedo, Paulo Roberto brinca com as palavras. Se elas tivessem algum endereço, saberia ele quem seriam os destinatários. Controle que não o falta na fala, um mar de tons que não engana quem espera pelo êxtase das ideias. Paulo fica vermelho e da ponta do nariz os óculos já estão mais próximos; os sorrisos entreabertos dos alunos são frutos de um percurso no qual a porta do local de destino se abre para uma clareza tão inesperada quanto óbvia.

Paulo precisa ir. Já se sabe o trem e a estação. Mas que ele não leve muitas malas. Os finais, assim como qualquer partida, são complexos. Sofredores os que pensam que o ponto em final de sentença é necessário. Às vezes, um ponto e vírgula basta, ou apenas, a recuperação do início. Não se preocupe com que roupa vai ao samba, Paulo, pois lá até a pochete acompanha.

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